A cidade de Toledo, no Oeste do Paraná, se consolida como um importante polo de acolhimento a migrantes e refugiados, abrigando milhares de pessoas de mais de 40 países que buscam reconstruir suas vidas em solo brasileiro.
Desde o último sábado, 21 de junho, até o próximo dia 29, a III Semana do Migrante reúne uma programação rica e diversificada, que valoriza a cultura, a história e os desafios dessa população que forma parte essencial da identidade toledana.
Na manhã desta segunda-feira, 23 de junho, o auditório do Centro de Eventos Ismael Sperafico recebeu uma oficina especial com servidores públicos municipais, com foco na capacitação para o atendimento humanizado às comunidades migrantes. O evento destacou a exibição do documentário “Chegadas”, que retrata a trajetória de migrantes. A programação teve palestra da coordenadora do Projeto Haiti +, uma iniciativa pioneira que vem transformando a saúde materna das gestantes haitianas. Uma produção da Embaixada Solidária com incentivo da Secretaria de Cultura e Toledo e Ministério da Cultura.
A Embaixada Solidária é uma organização da sociedade civil que atua desde 2014 em Toledo e na Região Oeste do Paraná, promovendo a inclusão social, cultural e econômica dos migrantes, refugiados e pessoas em situação de vulnerabilidade. São mais de 42 países representados nas comunidades atendidas, refletindo a diversidade que torna Toledo uma cidade plural e enriquecida por múltiplas culturas.
Além do acolhimento, a Embaixada desenvolve projetos estruturantes que atuam na superação de barreiras sociais e econômicas, especialmente voltados ao cuidado materno-infantil. O Projeto Evena é um deles, focado no cuidado integral à saúde materna e infantil das mulheres migrantes. Já o Projeto Tradução Solidária oferece apoio linguístico fundamental, garantindo o acesso das pessoas migrantes a serviços públicos essenciais, como saúde, educação e assistência social, através da tradução e interpretação em diversas línguas.
Projeto Haiti +: cuidado integral para gestantes haitianas
Entre as iniciativas de maior impacto, o Projeto Haiti +, coordenado pela obstetra e professora Dra. Patrícia Leen Kosako Cerutti, vinculada à Universidade Federal do Paraná (UFPR) campus Toledo, destaca-se pelo trabalho dedicado à saúde das gestantes haitianas. O projeto busca garantir o direito ao pré-natal e ao parto humanizado, enfrentando desafios linguísticos e culturais.
Através da tradução de documentos e orientações para o francês e crioulo haitiano, o projeto torna a informação acessível e contribui para o fortalecimento da relação médico-paciente no Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2023, o projeto avançou com a tradução do cartão do recém-nascido, orientações sobre amamentação e suplementação nutricional, além da elaboração de uma cartilha da gestante baseada no Guia Mãe Paranaense, com conteúdos adaptados à cultura haitiana.
Paralelamente, ações sociais como campanhas preventivas, coleta de exames e entrega de kits natalinos para as famílias consolidam o compromisso com a dignidade e o bem-estar da comunidade. A Dra. Patrícia destaca que o projeto, além de ser uma extensão universitária, é uma ponte concreta entre o conhecimento acadêmico e as necessidades reais da população migrante.
Oficina e documentário: sensibilização para uma política pública inclusiva
A oficina no auditório do Centro de Eventos Ismael Sperafico reuniu servidores públicos das áreas de saúde, assistência social e educação, promovendo um espaço de diálogo e aprendizagem sobre as demandas e especificidades dos migrantes. A exibição do documentário “Chegadas” trouxe à tona relatos comoventes de trajetórias marcadas por dor, esperança e resiliência, humanizando as estatísticas e dados.
Na palestra, a coordenadora do Projeto Haiti + aprofundou temas relacionados à saúde materna, destacando a importância da tradução e da adaptação cultural no atendimento e ressaltando a necessidade de políticas públicas que considerem as particularidades dos migrantes para garantir acesso efetivo e digno aos serviços.
Um convite à solidariedade e ao compromisso coletivo
A III Semana do Migrante é um convite para toda a sociedade toledana refletir sobre a presença e a contribuição das comunidades migrantes na construção da cidade. É um reconhecimento de que a diversidade cultural é um patrimônio e que a inclusão efetiva passa pelo diálogo, empatia e investimento público.
A Embaixada Solidária agradece profundamente a dedicação da Dra. Patrícia Leen Kosako Cerutti pelo seu trabalho transformador e por sua contribuição vital para a comunidade migrante.
Até o dia 29 de junho, Toledo seguirá celebrando a cultura e a esperança que os migrantes carregam consigo — uma força que move não só a cidade, mas gera impactos que transcendem fronteiras.