Evento marca o lançamento de um diagnóstico técnico inédito e propõe novas estratégias sustentáveis para o futuro da organização.
A primeira parte do encontro, realizado em 29 de maio de 2025, às 16h30, foi dedicada à apresentação dos estudos realizados pelas pesquisadoras Cristiane Carvalho e Carla Ribeiro, que abordaram a trajetória e os projetos da entidade. Reconhecidas pelo seu trabalho, as pesquisadoras já receberam uma premiação por um artigo que narra a história e as iniciativas da Embaixada, relacionando com os Objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) e as dimensão da sustentabilidade. Atualmente, as mestrandas estão envolvidas em um projeto de extensão universitária, sob orientação da professora Manoela Silveira, do Mestrado em Administração da Unioeste, em Cascavel.
O projeto utiliza a Embaixada Solidária como campo prático para o estudo e a construção de um modelo disruptivo e sustentável de gestão de Organizações da Sociedade Civil (OSCs), com base em princípios de economia circular, inclusão produtiva e consumo consciente.
Durante a roda de conversa, as voluntárias compartilharam experiências vividas no Bazar Refúgio, destacando os impactos emocionais e sociais gerados pelo pertencimento ao grupo. A equipe da universidade apresentou ainda uma proposta de campanha de educação ambiental, com materiais gráficos e audiovisuais acessíveis, oficinas, envolvimento comunitário e fortalecimento da comunicação institucional.
Também foi discutido o desafio do descarte têxtil no Brasil e no mundo. Segundo dados compartilhados, a produção mundial de fibras têxteis quase dobrou nas últimas duas décadas, impulsionada pelo consumo acelerado. No Brasil, são geradas anualmente cerca de 170 mil toneladas de resíduos têxteis, mas apenas 20% são recicladas. O restante é descartado em lixões e aterros, ou perdido ao longo da cadeia produtiva.
O projeto prevê a criação de cartilhas educativas que valorizem o reaproveitamento, a história por trás de cada peça doada e o fortalecimento dos laços entre pessoas e propósito. A meta é tornar o bazar uma vitrine de práticas sustentáveis e um modelo replicável para outras OSCs.
Estudo técnico interno: Embaixada mensura impacto ambiental e retorno social de suas ações
Embora não tenha sido apresentado no evento, um estudo interno realizado pela Embaixada Solidária no mês anterior, com apoio técnico voluntário, traz um diagnóstico inédito sobre o impacto ambiental direto da instituição.
O relatório mostra que a Embaixada evita o envio de 243 toneladas de resíduos por ano ao aterro sanitário, o que representa uma economia para a cidade de Toledo estimada em R$ 109.350,00, considerando o custo médio de R$ 450 por tonelada.
Entre os materiais reaproveitados, destacam-se:
A análise do reaproveitamento de materiais realizada pela Embaixada Solidária revelou que, mensalmente, são redirecionados em média 3.150 quilos de roupas e calçados, o que representa um valor social estimado de R$ 31.500. Móveis e eletrodomésticos também compõem uma parte significativa desse impacto, somando cerca de R$ 16.000 por mês. Na área da segurança alimentar, a organização redistribui aproximadamente 1.000 quilos de alimentos mensalmente, avaliados em R$ 15.000. Além disso, brinquedos doados e repassados a famílias em situação de vulnerabilidade alcançam um valor estimado de R$ 500 por mês — reafirmando o compromisso da instituição com a solidariedade, o reaproveitamento e a transformação social e ambiental.
O impacto social direto dessas ações totaliza R$ 53.000 por mês, ou seja, R$ 636.000 ao ano. Os recursos são reaproveitados por frentes como o Bazar Refúgio, Cozinha Mundo, Mundo em Retalhos e outros núcleos solidários mantidos pela Embaixada.
O estudo também destaca o Retorno Social sobre o Investimento (SROI): para cada R$ 1,00 investido, o retorno em valor social e ambiental é de R$ 2,17, superando índices médios de impacto de muitos projetos públicos e privados.
A atuação beneficia 2.400 pessoas por mês, totalizando 28.800 pessoas por ano, sem considerar os impactos indiretos sobre saúde, renda e dignidade.
Compromisso com a sustentabilidade como caminho institucional
A coordenadora do Bazar Refúgio, Claudete Beloto, responsável por liderar dezenas de voluntárias, agradeceu à universidade e, em especial, às pesquisadoras envolvidas no projeto. Em sua fala, reconheceu o trabalho impecável das voluntárias e voluntários, que sustentam com dedicação silenciosa uma engrenagem solidária que faz a diferença na vida de milhares de pessoas.
A jornalista Edna Nunes, fundadora da Embaixada Solidária, destacou o papel central do Bazar Refúgio, que além de promover sustentabilidade, garante a continuidade de todas as ações da instituição. “O Bazar tem uma responsabilidade imensa e linda: ele sustenta todo o trabalho da Embaixada, que sobrevive com recursos próprios, doações e sem financiamento governamental.”
As pesquisadoras também deixaram mensagens de inspiração. Carla Ribeiro destacou que “o impacto social verdadeiro nasce quando ciência e sensibilidade andam juntas”. Para Cristiane Carvalho, “a sustentabilidade só é possível quando há vínculos: entre pessoas, com o planeta e com o futuro que queremos construir”. Já a professora Manoela Silveira afirmou que “a universidade pública tem o dever de estar onde a vida acontece, e projetos como este são o elo entre o conhecimento acadêmico e a transformação concreta da realidade”.
A Embaixada Solidária afirma que a sustentabilidade não é uma meta abstrata, mas um processo diário de transformação social e ambiental. Com projetos acadêmicos, estudos técnicos e escuta ativa, a organização mostra que é possível alinhar justiça social, reaproveitamento de materiais e impacto real — tudo a partir de um ponto em comum: a dignidade humana.
Legenda para fotos: O Café com Sustentabilidade reuniu voluntárias e a diretoria da Embaixada Solidária em um encontro de escuta, apresentação de dados e construção de soluções para o futuro ambiental da organização.