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Quase três anos depois, projeto do Dia C transforma uniformes hospitalares em dignidade e sustentabilidade no Oeste do Paraná

A visita da ONU e de lideranças do setor produtivo revelou como um projeto nascido no Dia C transformou tecidos usados em saúde, prevenção e esperança para milhares de migrantes e refugiados.

Na tarde de 26 de setembro de 2025, a sede da Embaixada Solidária, em Toledo, foi tomada por olhares atentos. Uma comitiva formada por representantes da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), do Sesi e da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, além de líderes de cooperativas e do setor produtivo, visitava o Projeto Mundo em Retalhos.

O que viram impressionou: máquinas alinhadas, cores vivas espalhadas pelos tecidos e sotaques do mundo inteiro costurando lado a lado. Ali, no coração do Oeste do Paraná, uniformes hospitalares e jalecos que antes circulavam por clínicas e hospitais haviam ganhado novo destino. Transformaram-se em aprendizado, renda, autoestima e prevenção. 

Do Dia C ao coração da costura solidária

O Mundo em Retalhos nasceu no Dia de Cooperar de 2022, quando cooperativas e parceiros decidiram investir na ampliação da sede da Embaixada Solidária. A sala de costura construída naquele ano foi literalmente erguida pela força do cooperativismo.

Participaram diretamente dessa construção a Uniprime Pioneira, Unimed Costa Oeste, Sicredi Progresso, Sicoob Meridional, Cresol, Cooarte, Primato e Cotroledo, em parceria com a ONG Amare Vitae, a escritora e terapeuta Fabiana Zielasko, a BRF e a VTV Soluções Tecnológicas. Esse gesto coletivo transformou solidariedade em infraestrutura permanente, abrindo caminho para que milhares de migrantes e refugiados encontrassem dignidade através da costura.

Entre os maiores doadores de uniformes usados que abastecem o projeto estão a Unimed, a Uniprime, o Sicredi, o Sicoob, a Primato e até mesmo as agências dos Correios, que abraçaram a causa. Antes de serem doados, esses uniformes acompanharam a rotina de médicos, enfermeiros e equipes de saúde das cooperativas. Depois de cumprir a missão de salvar vidas, eles seguem outro caminho: tornam-se terapia para dezenas de voluntárias que ensinam a costura e esperança de renda para quem aprende e veste as novas peças.

Em quase três anos, o espaço já beneficiou mais de 4.700 pessoas e capacitou mais de 1.200 profissionais, com 300 certificados formalmente em cursos de costura e economia solidária. Só após a inauguração da nova sala, foram 500 capacitados.

Esse resultado foi possível porque mais de 20 empresas aderiram ao projeto, garantindo fluxo contínuo de uniformes e tecidos que, antes, seriam descartados. Assim, a costura se converteu em estratégia de saúde coletiva: reduz resíduos, gera renda, promove integração e fortalece a autoestima. 

Cooperativismo que vira tecido e futuro

Foi nessa sala que nasceu a Boneca Geraldine, símbolo da prevenção ao tráfico de pessoas, produzida a partir de retalhos. Feita por migrantes e voluntárias, ela ganhou projeção internacional como ferramenta de sensibilização.

Apresentada em escolas, rodas de conversa e campanhas, a Geraldine alerta para um dos maiores perigos enfrentados por refugiados: as redes criminosas que exploram vulnerabilidades. Mais que um brinquedo, é um instrumento de saúde preventiva e de proteção de direitos, apoiado inclusive pelo Rotary Club Internacional. 

Retalhos que viram saúde, dignidade e futuro

No ateliê, a costura segue a lógica dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS 5, 8, 10 e 12). O projeto promove igualdade de gênero — com 70% dos formados sendo mulheres —, incentiva o trabalho decente e o crescimento econômico, reduz desigualdades sociais e culturais e garante produção e consumo responsáveis.

Na prática, as camisetas doadas já se transformaram em sacolas retornáveis, absorventes femininos, fraldas infantis, pijaminhas para crianças e enxovais inteiros. Muitas das peças usadas pelos profissionais das cooperativas também ganharam nova vida em forma de vestuário infantil, especialmente pijaminhas de frio, que aquecem meninos e meninas em situação de vulnerabilidade.

Para quem recebe os pijaminhas, é um conforto imediato. Para quem faz, é uma terapia silenciosa, que ajuda a manter a saúde mental e torna os dias mais leves e iluminados pelo ofício de fazer bem ao próximo.

Cada peça costurada carrega não só linhas e retalhos, mas também o princípio da sustentabilidade aliado à dignidade humana.

Agora, o ateliê se prepara para um novo salto: o lançamento de uma estampa exclusiva e de uma coleção autoral de moda étnica, que deve reposicionar a região Oeste do Paraná como referência em moda solidária e sustentável. Não se trata apenas de roupas: é a tradução estética da diversidade, a afirmação da saúde social e a valorização da cultura migrante em forma de tecido. 

Onde a solidariedade veste esperança

A visita da ONU e de lideranças do setor produtivo ao Mundo em Retalhos confirmou o que já se sabia em Toledo: a saúde não se limita a hospitais e clínicas. Ela também nasce em espaços comunitários onde solidariedade, prevenção e inclusão são costuradas dia após dia.

O Mundo em Retalhos mostra que saúde pode ser vestida, sentida e carregada nos ombros. Do gesto simples de doar um uniforme usado à criação de uma coleção de moda, tudo ali aponta para um mesmo resultado: vidas preservadas e reconstruídas.

Na sala construída pelo cooperativismo, cada máquina ligada é um batimento coletivo. Cada curso oferecido é um diagnóstico de futuro. Cada peça finalizada é uma prescrição de dignidade.

Se a saúde é definida como “estado de completo bem-estar físico, mental e social”, como diz a OMS, então o Mundo em Retalhos é, sem dúvida, um dos maiores consultórios coletivos do Paraná.

Um lugar onde a solidariedade se veste de jaleco, a cultura se veste de tecido e o futuro se veste de esperança.

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