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O “Café filosófico”: um instrumento para crescer em humanidade

Por: Diego Pereira Ríos

Há alguns meses, apresentei timidamente a Edna Nunes, fundadora da Embaixada Solidária, um projeto de “Café Filosófico”, centrado nas problemáticas, dificuldades e desafios que nós, inmigrantes, enfrentamos aqui em Toledo. Junto com minha esposa, chegamos no ano passado por causa dos meus estudos na UNIOESTE como estudante de doutorado em filosofia, e, depois de quase um ano e meio, conseguimos perceber alguns aspectos do movimento migratório nesta cidade. Em nossa ligação com a Embaixada, tomamos mais consciência da situação preocupante. Por isso, quisemos colaborar como voluntários por meio de um espaço de encontro, reflexão, escuta e crescimento comunitário para os migrantes. Tenho a experiência de ter coordenado um espaço semelhante no Uruguai, na ONG “Por los Niños Uruguayos”[1], onde reuníamos pessoas de todas as idades em um bairro periférico de Montevidéu, para nos situarmos diante das demandas sociais, educacionais e trabalhistas[2]. O objetivo era elaborar um processo de práticas educacionais para a reflexão comunitária sobre os problemas e possíveis soluções a serem construídas. Todas as experiências foram constituindo um processo de prática educacional popular em torno da filosofia e da necessidade do desenvolvimento do pensamento crítico em espaços não formais[3].

 

E assim começamos nosso Café Filosófico na Embaixada Solidária, com o apoio do advogado haitiano Pierre Erick Bruny, atual Diretor Jurídico da instituição. O dia escolhido foi os sábado, às 17h. O primeiro encontro ocorreu no contexto da Semana do Migrante e contou com a presença de pessoas de oito países. Como todo processo de ensino popular, começamos pela base e nos perguntamos sobre o significado das palavras “café” e “filosófico”, tentando ir além da simples noção que aparece no uso cotidiano dessas palavras. Após um trabalho em grupos e a exposição das reflexões, sintetizamos que, junto com café, aparecia a palavra “compartir-partilha” e, ao lado de filosofia, o binômio “pensar-sentir”. Em um segundo momento, pensamos sobre os temas a serem tratados nos próximos encontros, dos quais surgiu como urgente o da linguagem e da comunicação. Foi um bom começo, que nos fez perceber que há muito a fazer, pois os desafios são grandes.

 

O segundo encontro nos reuniu em função do tema apresentado com maior demanda, mas também com um novo desafio: a baixa participação dos imigrantes. Não é apenas o fato de eles não terem comparecido, mas também nos preocupam as razões dessa ausência, muitas das quais sabemos e outras supomos. Da mesma forma, tivemos uma boa participação e nosso trabalho começou com perguntas sobre as limitações da linguagem e da comunicação, com a consequente apresentação de possíveis soluções, para depois trabalhar com textos filosófico-literários em um duplo movimento: leitura e análise de texto, e interpretação e reflexão. Vivemos um tempo e um espaço em que percebemos algo do que experimentamos no dia a dia, mas que nem sempre podemos expressar devido às limitações da linguagem. Por isso, precisamos aprender a nos comunicar além das palavras, usando o corpo, a arte, os sentidos. Por isso, terminamos o encontro brincando com as crianças presentes, com o conhecido “jogo da cadeira”. Sim, em nosso Café Filosófico há espaço para as crianças, que são aquelas em quem devemos pensar para tentar criar um mundo mais justo.

 

E embora a pouca presença de imigrantes pudesse ter sido um problema, pelo contrário, nos motivou saber que tivemos muitas novas presenças de mulheres de Toledo que, conhecendo a Embaixada, se aproximaram do café em busca de um espaço de reflexão. Pensemos que isso é algo muito positivo, pois não podemos pensar na situação dos migrantes sem a presença dos próprios atores que nos recebem aqui, em sua cidade. Como ensinou Paulo Freire, a conscientização, como processo de despertar para a realidade sociocultural, implica a presença ativa de todos os atores como sujeitos conscientes e co-criadores de novas realidades. Portanto, foi uma ótima notícia ter mais presença de habitantes de Toledo. Sabemos que ainda temos o desafio de convocar os migrantes para que se animem a sair dos falsos lugares de segurança, daquele lugar de conforto que nos impede de ser o que realmente somos, sem medo da exclusão, para poder compartilhar com outros iguais que nos apoiem e promovam. O caminho iniciado pelo Café Filosófico está apenas começando, mas estamos muito animados. O próximo encontro será na segunda quinzena de agosto, para o qual continuaremos abrindo espaços para ouvir e escutar os migrantes em Toledo… “Até que todos sejam vistos”.

 

[1] Uruguayo, Profesor de Filosofía y Religión en Enseñanza Media (ANEP, Uruguay), Magister en Teología Latinoamericana por la Universidad Centroamericana “José Simeón Cañas” (UCA, El Salvador). Actualmente es doctorando en Filosofía en la Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE, Campus Toledo-PR, Brasil), becario Programa CAPES. Autor de 10 libros.

[1] https://www.elvagon.org.uy/

[1] Sobre essa experiencia se pode ler: “Café filosófico… ¿espacio para una educación popular?” en http://kaired.org.co/archivo/3728

[1] Nosso trabalho foi conhecido na Colômbia y publicado no libro editado pela RED CREA Cómplices Pedagógicos de América Latina titulado “Dentro de una confabulación pedagógica”, Gabriel Sánchez (Comp), Camino Editores, Bogotá, 2019, pp. 30-41.

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